sábado, 14 de novembro de 2009
Memória e Esquecimento em Villas-Bôas Corrêa
Acabo de ler "Conversa com a Memória - A História de Meio Século de Jornalismo Político", do jornalista Villas-Bôas Corrêa (Ed. Objetiva, 2002, 288 pág.). O autor adverte que não é um livro de história, pois ele não é historiador; não é uma livro de especulação sociológica, posto que ele não é sociólogo. São as memórias de um jornalista com mais de meio século de ofício.
Registro de quem sempre esteve no olho do furacao, a obra narra os fatos mais significativos da história do Brasil a partir de 1945, após a queda da ditadura de Vargas. Passa pelo governo de Dutra, o retorno de Vargas voto popular, o suicídio do velho caudilho, a eleição e renúncia de Jânio Quadros, a ascenção e queda de Jango, o golpe militar, os governos dos generais, as diretas-já, a eleição e agonia de Tancredo, o governo Sarney e a vitória de Collor.
Quem é mais observador deve ter notado um hiato histórico - o governo de JK (1956-1961). Estranhamente, o veterano jornalista deixa uma lacuna em suas memórias. Discorre muito pouco sobre este período importante da história do Brasil. Como negar uma época tão singular e que marcou o país na segunda metade do século XX?
Foi durante o governo de JK que o Brasil começou, realmente, a ser desbravado. A olhar para dentro de si; é quando decide alterar o seu eixo de desenvolvimento. O país se dá conta que não se resumia ao litoral. A construção de Brasília fez com que a nossa arquitetura fosse respeitada mundialmente. O governo dos "50 anos em 5" revelou uma visão singularmente empreendedora.
Mas, vamos analisar as razões de Villas-Bôas Corrêa.
Villas-Bôas não esconde o saudosismo pela cobertura política que era feita no Rio de Janeiro. A cidade era, então, o centro do poder político e cultural do Brasil (décadas de 40 e 50 do século passado). Ele registra que foi na antiga capital da República, quando frequentava o Congresso em sessõs diárias, que se forjou o modelo de cobertura parlamentar e política que se pratica até hoje, com pequenas adaptações e evoluções.
O jornalista atribui à nova capital "a moda" da semana de dois, três dias úteis, nas sessões do Congresso Nacional. Na sua opinião, isso contribuiu para comprometer negativamente a cobertura política. "Nenhum jornal" - afirma - "transferiu para Brasília os seus quadros de repórteres especializados em acompanhar a rotina da atividade legislativa nas comissões e no plenário".
Villas-Bôas Corrêa demonstra toda a sua mágoa com Brasília quando faz a seguinte observação: "Nos tempos do Congresso no Rio a convivência com a família e a vigilância das esposas impunham a continuidade da rotina doméstica da pacata vida interiorana e da pausada cadência das capitais da maioria dos estados".
Como se vê, mesmo passados tantos anos, o jornalista não deglutiu Brasília. Ao longo do livro, ele deixa registrada inúmeras vezes a sua contrariedade com a construção da nova capital. Talvez, inconscientemente, dedica ao seu idealizador (JK) o pior de todos os sentimentos, superior, até mesmo, ao ódio: o desprezo.
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