quarta-feira, 11 de junho de 2008
Crônica do Avião
Cheguei ao aeroporto, em Goiânia, ligeiramente atrasado. Estavam chamando para o embarque. Corri para fazer o check-in. Etiquetaram as bagagens. Passei pelo detector de metais. A fila já estava formada para entrar na aeronave. Embarquei no avião. Procurei a minha poltrona: 12-D. Coloquei as bolsas de mão na bagageiro. Ufa! Sentei para descansar. Dei-me, ainda, ao trabalho de lembrar de desligar o aparelho celular.
Os passageiros, mais atrasados que eu, também procuravam se acomodar em suas poltronas. Ou melhor, tentavam. Aconteceu um intenso troca-troca de assentos. As comissárias de bordo, solícitas, cuidavam para que tudo se ajeitasse da melhor forma possível. O objetivo era zelar para que o vôo saísse rigorosamente no horário marcado.
Mas, de repente, algo inesperado. Um telefone celular toca. Trinnnnnn!Os passageiros, já sentados e com seus cintos afivelados, prontos para decolar, se entreolham. Pareciam dizer: "Não é o meu celular que está tocando". Ao mesmo tempo, queriam encontrar o babaca que deixou o celular ligado. O toque insistente não para: Trinnnnn!
A comissária de bordo interroga: "De quem é o aparelho que está tocando?". Imediatamente respondo: "Não é o meu". Do meu lado, alguém sugere: "O toque está tão próximo, deve ser de alguém que esqueceu ligado na bolsa do bagageiro". Um senhor grisalho levanta-se. Abre o compartimento. Verifica a bolsa e conclui triunfante: "Não é o meu". Enquanto isso, o maldito aparelho: Trinnnnn!
Inicia-se a algazarra. A impaciência toma conta dos passageiros. A aeronave não pode decolar com um celular ligado. Todos correm perigo. Trinnnnn! Ele insiste em se manifestar. A impaciência aumenta.
A chefe de gabine anuncia pelo serviço de som: "Por favor,senhores passageiros: precisamos identificar o dono do celular para que o aparelho seja desligado. O avião só poderá decolar após esta providência". Olhares acusatórios são trocados, como se dissessem: "Você aí do lado não vai desligar essa geringonça?".
Trinnnn! O barulho está muito próximo. "Só se alguém deixou cair debaixo da poltrona", sugere o senhor da poltrona 11-A. Os passageiros, agoniados, se abaixam para localizar o celular. Trinnnnn! Ele volta a insistir. E nada de localizá-lo.
De repente, me dou conta: "Será que é o meu?", penso com os meus botões. Lembro, perfeitamente, de tê-lo desligado. Ainda asssim, para desencargo de consciência, apalpo o bolso. Só então descubro, constrangido, querendo sumir da poltrona, que o Trinnnnn! é do meu aparelho.
Com um toque rápido no botão vermelho do celular devolvi a paz e o silêncio ao vôo 3957 com destino a São Paulo. Assim, cheio de vergonha, descobri o mistério: o Trinnnn era o despertador, que é ativado mesmo com o aparelho desligado. Vivendo e aprendendo.
Em tempo: esta crônica foi escrita hoje, entre 7h05 e 7h35, dentro do avião, no trajeto entre Goiânia e São Paulo.
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