É
certo que o escritor Neil Gaiman tem uma legião de fãs, pessoas que conhecem o
seu trabalho, especialmente, como o criador da aclamada série de quadrinhos Sandman. O talento o levou a expandir
seus horizontes artísticos. Assim, desembarcou na ficção adulta e
infantojuvenil. Recebeu diversos prêmios e suas obras foram adaptadas para
filmes, séries de TV e até óperas.
Por
tudo isso, é natural a grande expectativa que se criou em torno do seu mais
recente romance “O Oceano no Fim do Caminho” (Ed. Intrínseca, 205 Págs.). Ele
não decepcionou. Ou seja, não fugiu ao seu estilo. A história é densa. Embora o
universo retratado seja reminiscências de criança. O enredo lembra um conto
infantil gótico, estranho, assustador, sombrio.
Ao
remexer o passado, o personagem principal (um homem de meia idade) depara-se
com o “reflexo tremido na lagoa da lembrança”. É esta lagoa, que ele revisita
depois de uma ausência de 40 anos, que a sua amiga de infância chamava de “oceano”. O reencontro com o passado aviva na sua
memória imagens há muito adormecidas.
O
leitor é como que levado a ouvir o “eco dos sonhos” do narrador da história. Só
que esses “sonhos” mais se assemelham a pesadelos. Esse mundo infantil é
povoado por pássaros vorazes, com dentes afiados, que se alimentam de “lona
apodrecida”. São abutres que voam em círculos e atuam como “faxineiros da
natureza”.
Velas
bruxuleantes, aves famintas, céu cinzento, orquídeas estranhas, compõem o
cenário do romance. O autor faz referências diretas à obra “Alice no País das Maravilhas”. As
duas narrativas bebem na mesma fonte: o estranhamento do mundo, como se fosse
possível cruzar um portal e penetrar
“terras além do mundo conhecido”.
O
mundo infantil de Gaiman está longe de ser lúdico. É claustrofóbico, povoado
por monstros assustadores e dominado pela presença da morte. O seu “oceano”
cabe num balde. A misteriosa amiga do narrador (a garotinha Lettie Hempstock)
era “feita de lençóis de seda” e de uma “miríade de chamas de velas”.
Numa
certa altura do romance, o narrador, alter-ego de Gaiman, confessa que não tem
saudade da infância. Dá, perfeitamente, para entender porque, embora diga que
sente falta “da forma como eu encontrava prazer nas coisas pequenas”. Ele
poderia completar: quando era possível colocar, usando apenas a imaginação, um
oceano dentro de um balde.
Ficha Técnica
Título: O Oceano no Fim do Caminho
Autor: Neil Gaiman
Gênero: Romance
Editora: Intrínseca
Páginas: 208
Ano: 2013
Ficha Técnica
Título: O Oceano no Fim do Caminho
Autor: Neil Gaiman
Gênero: Romance
Editora: Intrínseca
Páginas: 208
Ano: 2013
(Francisco Barros)