"O tempo é a imagem em movimento
da eternidade imóvel".
Platão
da eternidade imóvel".
Platão
Luiz Carlos Maciel, jornalista , roteirista, diretor de teatro, professor e escritor, é um craque do vernáculo. Saudado como guru da contracultura, Maciel foi colaborador do Pasquim e um dos fundadores da edição brasileira da Revista Rolling Stones. Em março de 2003, Maciel escreveu um artigo sobre o tempo, no caderno "Fim de Semana", da Gazeta Mercantil. O texto é ilustrativo do seu talento.
O artigo é um primor. Tanto do ponto de vista estilístico, quanto da precisão da linguaguem; erudito e filosófico. Induz à reflexão. Na epígrafe, cita Caetano Veloso: "Por seres tão inventivo/E pareceres contínuo/Tempo Tempo Tempo Tempo/ És um dos deuses mais lindos". Trata-se da letra da canção "Oração ao Tempo".
Ah, não citei o título do artigo. Chama-se "O Tempo Somós Nós". Este, sem dúvida, é um tema instigante. Sempre povoou o nosso imaginário, desde o início dos tempos, nos primórdios da civilização, quando o homem começou a refletir sobre a sua posição no universo.
Você deve estar se perguntando: por que citar este artigo agora? Por uma razão prosaica. Estava em casa, limpando uma gaveta, quando saltou em minhas mãos o caderno "Fim de Semana", da Gazeta Mercantil. Folheei. Cheguei ao artigo, que ocupa toda a contra-capa. Não resisti. Reli com prazer o texto de Maciel.
Foi então que tive a idéia de transcrever alguns trechos, que considero os mais significativos do artigo, como forma de homenagear o autor. Maciel nasceu no dia 15 de março de 1938, em Porto Alegre (RS) e mora, atualmente, na cidade do Rio de Janeiro.
"O objetivo fundamental da ciência ocidental, em relação ao tempo, foi - e ainda é - medi-lo com objetividade e precisão. O relógico mecânico, inventado no século XIII, obedecia a este propósito. As mudanças que trouxe foram importantes, ele modificou a própria organização da sociedade - e inaugurou uma nova civilização, atenta à passagem do tempo e, portanto, à produtividade e ao desempenho".
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"A concepção comum do tempo o considera uma estrutura tríplice: passado, presente e futuro. Nenhum desses três momentos existe, a rigor. O passado não existe mais; o futuro ainda não existe; o próprio presente é mera passagem abstrata do passado para o presente, sua vigência se reduz ao instante inextenso. Mas se o tempo não existe, por que nos parece tão real, a ponto de falarmos, por exemplo, em ter e não ter tempo? Há um esforço por parte do pensamento humano para conferir realidade ao tempo".
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"(...) O caráter fixo do passado, sua imobilidade, são tão necessários para ancorar o fluxo do tempo, mesmo sem negar o outro mundo da eternidade imóvel, que até mesmo os teólogos não hesitaram em limitar a onipotência de Deus, negando-lhe o poder de modificar o passado. Deus pode tudo, menos desfazer o que já aconteceu. Quanto ao futuro, sabe-se que virá mas não se sabe o que será e em que irá inevitavelmente se transformar. E o presente não cessa de nos escapar, a cada instante; ele perpetuamente aniquila a si próprio. O tempo é relativo e indeterminado".
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