domingo, 2 de janeiro de 2011

Borges: o escritor e a eternidade


Para começar o ano um poema de Jorge Luis Borges, que integra o livro "Nova Antologia Pessoal", da Editora Difel (1982). Chama-se "O Instante" e é uma reflexão sobre a passagem do tempo, sobre a existência, a velhice e a eternidade. Enfim, questionamentos que fazemos nessa época do ano. O aclamado escritor argentino discorre também sobre passado, presente e futuro. Com a peculiar erudição de sempre.

O Instante

Onde estarão os séculos, o sonho
de espadas, o que os tártaros sonharam,
onde os sólidos muros que aplanaram,
onde a árvore de Adão e o outro Lenho?
O presente está só. Mas a memória
erige o tempo. Sucessão e engano,
esta é a rotina do relógio. O ano
jamais é menos vão que a vã história.
Entre a alba e a noite há um abismo
de agonias, de luzes, de cuidados;
o rosto que se vê nos desgastados
e noturnos espelhos não é o mesmo.
O hoje fugaz é tênue e é eterno;
nem outro Céu nem outro Inferno esperes.

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