Pode soar estranho, mas é verdade: cavalo de três rabos. Até parece realismo fantástico. Mas não é não. Pode até guardar semelhanças com as histórias do Gabriel García Marquez, o Nobel colombiano. Mas a referência é de outro Nobel – o chileno. Bingo! É ele mesmo – Pablo Neruda.
De onde surgiu essa história de cavalo de três rabos? Eu conto, sem aumentar muitos pontos. Vamos lá: por partes (sem trocadilho de humor negro). É assim... Era uma vez um menino em Temuco, que nessa época atendia pelo nome de Neftali Ricardo Reys. Pois bem, esse menino ficou maluco quando viu na entrada de uma sapataria um cavalo de papel. Era uma peça publicitária, decorativa, para chamar a atenção dos transeuntes.
A mensagem (ou melhor, o cavalo) ficou gravada na memória do poeta. Essa imagem da infância não saiu da sua cabeça de adulto. Já famoso no mundo inteiro, Neruda retorna a Temuco com uma firme determinação: adquirir a relíquia. O dono pediu uma soma astronômica. Neruda desistiu – só temporariamente, do seu intento.
Um belo dia, um incêndio praticamente consumiu a loja. Os bens salvos foram a leilão. E eis que, entre eles, figurava o simpático, querido, desejado cavalinho de papel. Não deu outra: Neruda arrematou a peça. Mas havia alguns detalhes peculiares. O rabo estava chamuscado. A bem da verdade, outras partes do corpo também foram atingidas.
Com imaginação de poeta não se brinca. Ele convocou um amigo pintor para restaurar o seu brinquedo de quatro patas. Assim, o cavalo foi coberto de tinta azul clara e de dourado. Restava, porém, uma parte: o rabo chamuscado. O poeta convocou três amigos para achar uma solução. Acharam três. Ou melhor, cada um arrumou um rabo de uma cor – branca, amarela e preta.
Diante dessa questão, Neruda exerceu o que mais sabia, depois da poesia: a diplomacia. Para não desagradar ninguém, colocou os três rabos no cavalo. Quem quiser conferir o prodígio é só visitar a casa do bardo em Isla Negra. O cavalo está lá, com os três rabos, numa sala especialmente desenhada para ele.
Isla Negra
Ah, sim, e quanto às três fábricas de poesia? Simples: são as três casas do poeta, transformadas em museu. Nelas Neruda escreveu boa parte de sua extensa e consagrada obra literária. Isla Negra – a do cavalo – era a sua preferida. Ela não é ilha e não é negra. Apenas uma simpática vila de pescadores. É onde o poeta está enterrado, de frente para o mar, ao lado de sua amada, Matilde.
Neruda e Matilde
A segunda casa é La Chascona, que significa cabelo desarrumado. Foi edificada em Santiago, especialmente para Matilde. Nesse espaço funciona a sede da Fundação Pablo Neruda. Ela possui três divisões, com um pátio central coberto de vegetação e belos jardins. Chama atenção o acervo de obras de arte.
La Chascona
Por fim, em Valparaíso, encontra-se a sua terceira casa -La Sebastiana. Fica no alto da colina “Bellavista”, de onde se divisa toda a baía da cidade. De qualquer cômodo da casa é possível ver o mar. Ela possui formato de barco. É onde o poeta costumava passar o réveillon. As três moradas eram as suas fábricas de poesia.
La Sebastiana
2 comentários:
Muito bom, Chico.
Abração,
Beto
Uma viagem no mundo de Neruda. Muito bom!
abraço
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