Foto: livre
O mestre Quintana dominava como ninguém o coloquial, sem cair no simplismo e na superficialidade. Cá prá nós, isso não é fácil. Escrever fácil é difícil prá burro (com o perdão do trocadilho).
No livro de Haicais,organizado por Ronald Polito, da Editora Globo, Quintana exercita seu estilo com maestria. Dizem que esses poemas foram influenciados pela leitura de Jorge Luis Borges. Dou-me o direito da dúvida. Por mais que procure, não acho Borges em Quintana. E vice-versa.
Há, também, quem atribua à escrita de Quintana "ecos simbolistas". Também sou cético nesse sentido. Se existe nostalgia no que escreve, também existe muito humor. Se me fosse pedido para enquadrar (olha que absurdo) Quintana numa escola literária, não hesitaria: "pertence à escola quintaniana".
O escritor, falecido em 5 de maio de 1994, definiu com extremo bom-humor a receita da simplicidade: "Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro".
Reproduzo, abaixo, alguns dos haicais do livro de Quintana. Leitura saborosa.
Diário de Viagem
O poeta foi visto por um rio,
por uma árvore,
por uma estrada...
Verão
Quando os sapato ringem,
- quem diria?
São os teus pés que estão cantando!
Os Grilos
Eles cantam a noite inteira!
São sabias?
Os gripos são os poetas mortos...
S.O.S.
O poema é uma garrafa de náufrago jogada ao mar.
Quem a encontra
Salva-se a si mesmo...
Arte Poética
Esses poetas que tudo dizem
Nada conseguem dizer:
Estão fazendo apenas relatórios...
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