quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Desabafo em forma de Poema
Manuel Bandeira, o grande poeta do modernismo brasileiro, ao escrever o poema "Nova Poética", foi além - fez um desabafo. Contra o que? Contra o que ele denominou de "poesia-orvalho", aquela que omite a realidade. Mais que isso: deturpa a realidade. Ele defende uma poética vinculada à vida, à realidade, em oposição à corrente dos "alineados". Baneira dá nome aos bois: menininhas, estrelas alfa, virgens cem por cento e amadas envelhecidas.
Ele até pode parecer agressivo ao utilizar o termo "sórdido". Mas fez um cálculo deliberado. O seu objetivo era estabelecer uma ruptura com padrões antigos, que ainda persistiam (e dominavam) o fazer poético, quando o poema foi escrito em 1949. Tratava-se, em realidade, de um desabafo, de uma ruptura com os defensores da "poesia orvalho".
Bandeira já tinha chocado os tradicionalistas da literatura com o seu poema "Os Sapos", por ocasião da Semana da Arte Moderna, em 1922. Ele não alisava. Escandalizava os conservadores. E ainda por cima oferecia a eles uma "receita de poesia", cujos ingredientes estavam todos "na marca suja da vida". Os assépticos arrepiaram os cabelos.
Confiram o poema Nova Poética:
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido: há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada,
e na primeira esquina passa um caminhão,
salpica-lhe o paletó de uma nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens
cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.
Quem quisar mais Bandeira, pode acessar o seguinte endereço:
http://letrasiesm.blogspot.com/2009/10/manuel-bandeira.html
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3 comentários:
Uma provocação: Cecília seria uma menininha, uma estrela alfa, uma virgem cem por cento ou uma amada que envelheceu sem maldade?
Sena,
Na minha opinião, Cecília não se enquadra em nenhuma dessas categorias. É uma poeta de grande sensibilidade, que mesmo sendo chamada de neosimbolista, soube retratar nos seus versos os sentimentos mais profundos do ser humano. Ou seja, não era superficial, piegas ou sentimentalóide. O alvo de Bandeira era esses espécimes.
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