sexta-feira, 7 de março de 2008

Eros e a Escrita


Para que ou para quem se escreve? Resposta óbvia: para o leitor. Engano. O ato da escrita não é tão simples. Quem tratou do assunto com muita agudeza foi o filósofo Roland Barthes. Ele sentenciou: escrever é um modo do Eros. O que Barthes quis dizer com isso?

Quem comenta é Gustavo Bernardo, no seu livro Redação Inquieta: "Nascido de Narciso, nascido da auto-afirmação, escrever se faz Eros porque se alimenta primeiro do desejo e se realiza no exercício da sedução. No exercício do próprio amor, sempre um amor de si mesmo. O amor de si mesmo, radicalizado, perfura o espelho narcísico e chega, intenso, ao amor do outro".

Barthes poderia acrescentar: "Escrever implica calar-se, escrever é, de certa modo, fazer-se silencioso como um morto, tornar-se o homem a quem se recusa a última réplica; escrever é oferecer, desde o primeiro momento, esta última réplica ao outro".

Bernardo conclui o raciocínio do filósofo: "Escrevo. Calo. Silenciosamente, lhe entrego os meus escritos. Para além dos meus escritos, lhe entrego todo o meu silêncio. Então você, leitor ou leitora, não sei, tem nas suas mãos tanto a minha palavra quanto o meu silêncio.
Silêncio".


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