segunda-feira, 21 de abril de 2008

1968: O Poder Jovem nas Ruas


Mês que vem, comemora-se os 40 anos do Maio de 1968. Mas, há motivos para comemoração? Este é o questionamento que você pode fazer de cara. Será que não se está apenas incensando aquele bando de filhinhos-de-papai que saíram às ruas de Paris queimando carros, arrancando paralelepípedos, invadindo universidades e jogando pedras em policiais?

É claro que os episódios daquele ano podem ser analisados sob outra óptica completamente distinta. Foi nesse período que os ideais de liberdade e modernidade se fizeram sentir com mais intensidade, em especial, entre os jovens, filhos do pós-guerra. O chamado Poder Jovem insurgiu-se contra a autoridade. Que podia ser representada pelo pai, professor, chefe, burocrata, presidente ou rei.

Naquele ano mítico, tudo parecia possível. O homem estava próximo da lua. Os meios de comunicação, em especial a TV, interligavam o mundo via satélite. Pela primeira vez as famílias de classe média acompanhavam os horrores da guerra de sua sala de estar. A barbárie da guerra do Vietnã era mostrada com toda a sua crueza. O mundo vivia em plena Aldeia Global.

Enquanto isso, a revolução embalava os ideais juvenis. Daí o slogan famoso dos estudantes de Paris: "Seja realista, exija o impossível". Ou outro, que estava estampado nas pichações das universidades: " É proibido proibir". Entrincheirados em suas barricadas, também exigiam "A imaginação no poder". De Gaulle, o presidente francês, foi envolvido por um mutismo sepulcral.

A rebelião da juventude em 1968 era planetária. Além da França, também sacudiu a Alemanha, a Inglaterra, a Itália, e até países da chamada "cortina de ferro", como a Iuguslávia, que protagonizou a Primavera de Praga. Na América do Sul, os ecos foram ouvidos no Brasil e na Argentina, bem como na América do Norte - México e Estados Unidos.

Nos EUA, o movimento ganhou as ruas, sobretudo em razão da grande insatisfação da opinião pública norte-americana com os rumos da Guerra do Vietnã. Os jovens rebelaram-se contra o alistamento militar. Recusavam-se a ser bucha de canhão numa guerra sem sentido. Somava-se a isso, a luta pelos direitos civis, contra o racismo e pelos direitos das mulheres.

Quatro décadas depois, o que representou 1968? A revolução sonhada, é certo, não se concretizou. De toda sorte, um marco profundo se fez sentir nos costumes e na cultura. O mundo conservador, careta, reacionário, teve que dar passagem a idéias bem mais arejadas. Para o bem ou para o mal, independente da idade que se tenha hoje, somos herdeiros dos sonhos que embalaram aqueles tempos.

O vídeo abaixo dá uma idéia da rebelião e de como foi o conflito entre os estudantes e os policiais. Paris, a cidade dos amantes, tornou-se, literalmente, uma praça de guerra. Confira.

2 comentários:

Unknown disse...

Oi Chico,

Há poucos dias assisti a uma entrevista com o Zuenir sobre 68, muito do que você colocou, ele também falou. Destacou que foram os sonhos de revolução, de mudar o mundo que nos trouxe até aqui. Hoje, a garotada já não tem mais esses ideais, o negócio agora é ter um carro do ano, tênis e outras coisas. Acho que nossa geração foi privilegiada, apesar dos erros e de tanta brutalidade.
Pelo menos, um dia a gente acreditou que podia mudar algo e hoje???
Onde estão os movimentos sociais??? Vejo tudo parelhado por partidos políticos, que também se perderam nas negociatas.
Mas, acredito que é preciso continuar sonhando para se viver. Se não qual a graça???
Sem saudades, mas acho que precisamos encontrar bons motivos para envolver nossa garotada e não perdê-la. E aí vejo, que a igreja ( não importa qual) tá entrando de sola.
Enfim, amigo acho que tudo vale! O importante é acreditar e lutar por algo que faça bem para todo mundo.
Até o grande Chico Buarque anda calado??? Onde estão as belas letras que falam das mulheres, homens que construíam, os pixotes da vida, Geni...????
Mas, como disse o grande poeta Fernando Pessoa: "...navegar é preciso, viver não é preciso".
Um grande beijo, Fádua

Unknown disse...

Fádua,

Concordo contigo. Acho importante manter viva a chama que iluminou os ideais da geração de 68. Aquele foi um momento único na história. Não vai se repetir. Mas continuo achando que os reflexos daquele período continuam sendo projetados nos dias atuais. É claro que as coisas não são lineares. Foram muitos os tropeços. Erros aconteceram. Mas tempos que aprender com tudo isso. A nossa geração, nos anos 80, bebeu muita água da fonte da geração de 60. Não podemos aceitar tudo o que foi feito, assim como não podemos negar. E esse é uma das vantagens da maturidade: saber pesar e ponderar as coisas. Vivemos tempos difíceis, é claro. Mas em muitos aspectos avançamos: a luta das mulheres pela igualdade de direitos, dos homossexuais, pelo meio ambiente, dos negros, pelos direitos civis e democráticos,entre tantos outros. Em tudo isso, estava presetne o espírito de 68. Valeu a pena? Respondo com os versos de Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena".

Um beijo,

Chico