domingo, 15 de dezembro de 2013

Claro como o Rio



Rio Claro
deslizas compassado
por entre as pedras
que saúdam teus passos.

Rio Claro
ávido de luz
vestes sorrateiro
o verão silvestre.

Rio Claro
transparente e fluido
enfeitiças o olhar
singra o poente.

Rio Claro
fluis musicalmente
sonâmbulo reflete
a lua quartocrescente.

(Francisco Barros)

Rio:Claro


                                                                               Foto: Marco Monteiro

Chamo-te
pelo nome:
claro.
Derramas
tua arquitetura
líquida
sobre a face
vulcânica
das tuas
verdes
margens;
em dias
tórridos
teu corpo
volatiza-se
entre mãos
úmidas,
translúcidas,
enlaçando
o horizonte
em camadas
pulsantes,
esvaindo-se
em vapor,
luz,
sonho,
vida.

(Francisco Barros)



domingo, 27 de outubro de 2013

Gaiman: Oceano Dentro do Balde



É certo que o escritor Neil Gaiman tem uma legião de fãs, pessoas que conhecem o seu trabalho, especialmente, como o criador da aclamada série de quadrinhos Sandman. O talento o levou a expandir seus horizontes artísticos. Assim, desembarcou na ficção adulta e infantojuvenil. Recebeu diversos prêmios e suas obras foram adaptadas para filmes, séries de TV e até óperas.

Por tudo isso, é natural a grande expectativa que se criou em torno do seu mais recente romance “O Oceano no Fim do Caminho” (Ed. Intrínseca, 205 Págs.). Ele não decepcionou. Ou seja, não fugiu ao seu estilo. A história é densa. Embora o universo retratado seja reminiscências de criança. O enredo lembra um conto infantil gótico, estranho, assustador, sombrio.

Ao remexer o passado, o personagem principal (um homem de meia idade) depara-se com o “reflexo tremido na lagoa da lembrança”. É esta lagoa, que ele revisita depois de uma ausência de 40 anos, que a sua amiga de infância chamava de “oceano”.  O reencontro com o passado aviva na sua memória imagens há muito adormecidas.

O leitor é como que levado a ouvir o “eco dos sonhos” do narrador da história. Só que esses “sonhos” mais se assemelham a pesadelos. Esse mundo infantil é povoado por pássaros vorazes, com dentes afiados, que se alimentam de “lona apodrecida”. São abutres que voam em círculos e atuam como “faxineiros da natureza”.

Velas bruxuleantes, aves famintas, céu cinzento, orquídeas estranhas, compõem o cenário do romance. O autor faz referências diretas  à obra “Alice no País das Maravilhas”. As duas narrativas bebem na mesma fonte: o estranhamento do mundo, como se fosse possível  cruzar um portal e penetrar “terras além do mundo conhecido”.

O mundo infantil de Gaiman está longe de ser lúdico. É claustrofóbico, povoado por monstros assustadores e dominado pela presença da morte. O seu “oceano” cabe num balde. A misteriosa amiga do narrador (a garotinha Lettie Hempstock) era “feita de lençóis de seda” e de uma “miríade de chamas de velas”.

Numa certa altura do romance, o narrador, alter-ego de Gaiman, confessa que não tem saudade da infância. Dá, perfeitamente, para entender porque, embora diga que sente falta “da forma como eu encontrava prazer nas coisas pequenas”. Ele poderia completar: quando era possível colocar, usando apenas a imaginação, um oceano dentro de um balde.

Ficha Técnica
Título: O Oceano no Fim do Caminho

Autor: Neil Gaiman
Gênero: Romance
Editora: Intrínseca
Páginas: 208
Ano: 2013

(Francisco Barros)

Gaiman: Oceano Dentro do Balde



É certo que o escritor Neil Gaiman tem uma legião de fãs, pessoas que conhecem o seu trabalho, especialmente, como o criador da aclamada série de quadrinhos Sandman. O talento o levou a expandir seus horizontes artísticos. Assim, desembarcou na ficção adulta e infantojuvenil. Recebeu diversos prêmios e suas obras foram adaptadas para filmes, séries de TV e até óperas.

Por tudo isso, é natural a grande expectativa que se criou em torno do seu mais recente romance “O Oceano no Fim do Caminho” (Ed. Intrínseca, 205 Págs.). Ele não decepcionou. Ou seja, não fugiu ao seu estilo. A história é densa. Embora o universo retratado seja reminiscências de criança. O enredo lembra um conto infantil gótico, estranho, assustador, sombrio.

Ao remexer o passado, o personagem principal (um homem de meia idade) depara-se com o “reflexo tremido na lagoa da lembrança”. É esta lagoa, que ele revisita depois de uma ausência de 40 anos, que a sua amiga de infância chamava de “oceano”.  O reencontro com o passado aviva na sua memória imagens há muito adormecidas.

O leitor é como que levado a ouvir o “eco dos sonhos” do narrador da história. Só que esses “sonhos” mais se assemelham a pesadelos. Esse mundo infantil é povoado por pássaros vorazes, com dentes afiados, que se alimentam de “lona apodrecida”. São abutres que voam em círculos e atuam como “faxineiros da natureza”.

Velas bruxuleantes, aves famintas, céu cinzento, orquídeas estranhas, compõem o cenário do romance. O autor faz referências diretas  à obra “Alice no País das Maravilhas”. As duas narrativas bebem na mesma fonte: o estranhamento do mundo, como se fosse possível  cruzar um portal e penetrar “terras além do mundo conhecido”.

O mundo infantil de Gaiman está longe de ser lúdico. É claustrofóbico, povoado por monstros assustadores e dominado pela presença da morte. O seu “oceano” cabe num balde. A misteriosa amiga do narrador (a garotinha Lettie Hempstock) era “feita de lençóis de seda” e de uma “miríade de chamas de velas”.

Numa certa altura do romance, o narrador, alter-ego de Gaiman, confessa que não tem saudade da infância. Dá, perfeitamente, para entender porque, embora diga que sente falta “da forma como eu encontrava prazer nas coisas pequenas”. Ele poderia completar: quando era possível colocar, usando apenas a imaginação, um oceano dentro de um balde.

Ficha Técnica
Título: O Oceano no Fim do Caminho

Autor: Neil Gaiman
Gênero: Romance
Editora: Intrínseca
Páginas: 208
Ano: 2013

(Francisco Barros)

Canção para Cortázar


Frases mastigadas,
compassadas,
vagueiam velozes
pelo céu da boca.

Exalam aromas,
especiarias,
no interstício
das estações.

Acariciam a seda
e a melancolia
e reverenciam
sombras e luzes.

Afogadas
em saudades
dissolvem-se
na terra porosa.

Emergem orvalhadas,
florescem efusivas,
catárticas, em métricas
proporções.

Pássaros em fogo,
dançam e voam
no devaneio
da eterna magia.

(Francisco Barros)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O Mitômano e a Guerra Injustificável

Bob Drogin
   
Acabo de fechar a última página de um livro extraordinário “Curveball – Espionagem, Intrigas e as Informações que Provocaram a Guerra”, do premiado jornalista Bob Drogin, que cobre assuntos de segurança nacional e serviço secreto para o Los Angeles Times. O livro narra em detalhes a impressionante história de um refugiado iraquiano que em 1999 pediu asilo político na Alemanha. A obra é jornalismo investigativo de primeira linha.

Curveball é o codinome dado ao desertor iraquiano, um jovem engenheiro químico. Ele informa aos agentes secretos alemães, como moeda de troca para receber asilo político nesse país, que o regime de Sadam Hussein estava desenvolvendo armas de destruição em massa, utilizando unidades móveis, com agentes biológicos. Com base no depoimento desta fonte os EUA invadiram o Iraque no ano de 2003.

Só havia um problema: a fonte era um farsante. Mas, isso passou a ser um mero detalhe. Sobretudo devido a histeria criada após os atentados de 11 de Setembro nos EUA. O caso foi classificado por Fredrerick Forsyth, autor de O Dia do Chacal, como “o maior fiasco da história do serviço secreto de inteligência em 500 anos”. Escrito em ritmo de thriller o livro disseca uma “sequência de trágicos erros de entendimento e julgamento”.


Esse episódio, crucial da recente história contemporânea, colocou em total descrédito o governo de George W. Bush. O relato  de Bob Drogin desnuda a grosseira manipulação política conduzida pelos serviços de inteligência, especialmente, a CIA (agência central de informações, pela iniciais em inglês). Depois de ler o livro, dá vontade de oferecer o troféu Pinóquio para Bush, Colin Powel e para o então diretor da CIA, George Tenet.

Ficha Técnica
Título: Curveball
Autor: Bob Drogin
Gênero: Reportagem
Editora: Novo Conceito
Páginas: 272
Ano: 2008

domingo, 6 de outubro de 2013

Andaluzia


Céu andaluz
solo espesso

a bailarina cadencia
os pés no tablado

o bardo, atento, registra
o movimento.

Calcinada geografia,
madrugadas púrpuras;

O rio Guadalquivir, sonâmbulo,
flui sereno pelas montanhas

Serpenteia suas artérias
em ruminantes encostas

Pátria surreal
de noites febris.

Solo de feridas abertas
na memória trágica

Tentaram ceifar os ideiais
do teu povo mestiço

Mães velaram filhos
sob o manto das trevas

(o choro adubou, como húmus,
o triste solo enluarado)

silenciou a catedral gótica
congelou tempo e vento

até que, novamente, a luz
brilhou, as estrelas resplandeceram

e voltou a tingir  de vermelho
o revigorado verão andaluz.



(Francisco Barros)


sábado, 5 de outubro de 2013

Astronauta




No céu da tua boca
centelhas e fagulhas
guiam minha língua
por uma pungente
geografia outonal

No céu da tua boca
as nuvens rubras
suspensas no espaço
drenam meu sangue
por despenhadeiros

No céu da tua boca
minha língua vagueia
tonta, ébria, cambaleia
e para assustada
na fenda do universo

No céu da tua boca
(amplidão abissal)
minha língua passeia, louca,
pelas entranhas perdidas
da estação espacial

No céu da tua boca
(sigo uma  órbita volátil)
a língua revigorada, ondeia,
e me conduz, sonâmbulo,
ao infinito espaço sideral.

(Francisco Barros)

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Estrelas


Espevitadas no céu
dançam a tremeluzir
fazem tanto escarcéu
que não me deixam dormir.

(Francisco Barros)

Poeta Aprendiz




O saudoso mestre Alceu Amoroso Lima costumava citar uma anedota literária. Dizia ele que um pretenso poeta queixava-se a um poeta consagrado: "Tenho excelentes ideias, mas não consigo transpô-las para o papel". Sarcástico, o poeta observou:"Poemas não se escrevem com ideias, mas com palavras".

Esta questão me vem à lembrança a propósito do seguinte: em dadas situações, ao se escrever um poema, ele surge inicialmente como ideia. Devidamente anotada, pode virar um poema. Mas para isso tem ocorrer um intenso trabalho de burilamento. É a parte mais difícil, mais penosa.

Ideias podem surgir a todo instante. O poema não. Transformar essa ideia em poema exige muito mais que inspiração. É um sofrido trabalho de transpiração. É assim que reside a essência do fazer poético. Um poema pode ser escrito e reescrito até cem vezes. Sem nenhum exagero. Depende do rigor do poeta. Dificilmente um poema sai pronto.

Vamos a um exemplo concreto. Li um livro da poeta mineira Adélia Prado. A sua poesia tem o sabor das coisas de Minas. Tem o cheiro da terra. O gosto da sua culinária. Transpira o jeito de ser do mineiro.Desconfia do verso fácil. Em síntese: é uma delícia só. Tive a ideia de fazer um poema para homenagea-la. Assim esbocei (a ideia) o texto abaixo:

Na padaria,Adélia foi
e não trouxe pão;
em compensação,
serviu um prato
quentinho de poemas,
como se fosse
bolo de fubá,
que acabou
de sair do forno
do fogão caipira.

É claro, não me dei por satisfeito. Cortei, acrescentei, retirei, rememorei coisas que não constavam da ideia original. Reescrevi uma, várias vezes. Conservei, basicamente, a temática (ideia) central: pão, poema, poeta (Adélia). Depois de diversas burilagens cheguei a um formato que me agradou. É definitivo? Não sei. Provavelmente, não. O poema definitivo é aquele de técnica perfeita. Para se alcançar este estágio é necessário muito tempo, muito labor e muito talento.

Aprendiz de poeta, continuo me esforçando neste ofício extremamente difícil. Uma coisa asseguro: não vou desistir. Abaixo, transcrevo o resultado da minha carpintaria poética. Espero não decepcionar a minha homenageada: Adélia Prado. Como a Internet é um espaço de colaboração, estou aberto a comentários (positivos e negativos). Espero que os primeiros prevaleçam.



Pão e Poesia
Para Adélia Prado

Alimenta o corpo
Alimenta o espírito
Mãos ágeis
comprimem a massa
Mãos zelosas
esculpem palavras
Saem do forno
para serem servidos
Na bandeja
de esmalte
Na folha
de papel sulfite
São consumidos
avidamente
Pão e poesia,
ainda quentes
Uma autora,
duas obras
Poeta singular
das Minas Gerais.

(Francisco Barros)

Manoel de Barros


Manoel, poeta alquimista,
transforma palavras em ouro,
singra rios a perder de vista,
no pantanal está teu tesouro.

(Francisco Barros)

Jardim


Tenho sementes
na garganta
brilho oculto
nos olhos
espelho quebrado
no bolso
improváveis
lembranças de Vênus
afora relíquias
guardadas no porão.
Mas, de tudo,
o que mais
me orgulho
é meu jardim
secreto:
de sonho
de neblina
de afeto.

(Francisco Barros)

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Hiroshima




Um pássaro pousa
no parque em Hiroshima.
O que sabe o pássaro
sobre Hiroshima?
O que sabe o pássaro
sobre o homem?
Ele apenas voa
e canta para
saudar a vida.
Hoje, flores
derramam
perfume no céu
de Hiroshima.
O vento evita
a imobilidade
das plantas.
O mesmo vento agita
os cabelos e a memória
dos habitantes
de Hiroshima.
Um leve assobio,
sussurros nas esquinas.
À espreita,
o horror subterrâneo
caminha de mãos dadas
com teus antepassados.
Mas, hoje, os pássaros
chilreiam nos parques,
pousam nas árvores
e não sabem
da tua dor, Hiroshima.
A brisa, fria, sopra leve.
Hoje, 6 de agosto, o mundo
te olha com ternura, Hiroshima.
A mágoa, a nódoa, a chaga,
te acompanham.
Caminham,em marcha,
no teu lento compasso.
E nada se apagou.
O vento não levou.
Você, sabe. Você, sabe.
E, mais uma vez,
olha com desconfiança.
Finda o dia.
É hora da passagem - luz e treva.
Dorme, em paz, Hiroshima.
Só não peço que te esqueça.

(Francisco Barros)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Blow Up

Lembrando Antonioni


O filme é um clássico do mestre Antonioni. Revê-lo é sempre um prazer. Trabalha duplamente a imagem: cinema e fotografia. Uma homenageia a outra. Ambas, irmãs quase siamesas, nutrem-se das imagens. O cinema não tem compromisso com o real. A fotografia tem. Mas será? É, exatamente, o que Antonioni coloca em dúvida no filme.

Onde termina a realidade e começa a fantasia? A objetividade, a verdade, a realidade podem ser apreendidas em toda a sua essência? São questões para serem ponderadas, medidas, questionadas. Antonioni conduz tudo isso sem esquematismo, tomando por base e inspiração um belo conto de Julio Cortázar. Lançado em 1966, o filme capta a efervescência dos loucos anos 60.

A estética é jovem. Pulsante. Aborda o mundo das modelos. Mas vai muito além das aparências. Da beleza das beldades que desfilam nas passarelas, que são fotografadas em estúdio. A verdade está nas ruas. O cineasta mostra o protagonista, o fotógrafo da moda Thomas (David Hemmings), com um olhar apurado.

Fugindo das situações banais dos estúdios, ele capta um beijo num parque em Londres. Daí o subtítulo do filme: Depois Daquele Beijo. O roteiro explora com muita perícia o que se esconde por trás da imagem desse beijo. Ao revelar (e ampliar) o negativo diversas situações surpreendentes começam a fazer sentido. Como não sou desmancha prazer, não dá para contar o final.

Ao rever o filme que tinha visto na década de 90, tive a ideia de fazer um poema para homenageá-lo. Esbocei um texto inicial (abaixo). Mas, como sempre, não me dou por satisfeito. Cortei, acrescentei, remendei. O resultado vou apresentar na sequência. Novamente, digo: pode (e deve) sofrer mudanças.



Enquadro
quadro a quadro
a luz, a cor,
sombra e movimento.

Objeto em zoom
Objetiva em ação
Aciono o obturador:
paisagem capturada.

A imagem derramada
no papel fotográfico
apreende o instante
do olhar flamejante.

O poema, modificado, ficou da seguinte forma:

Objetiva na mão
Enquadro
(quadro a quadro)
luz e cor
sombra e movimento.
Objeto em zoom
Olho e lente são um
Obturador em ação
Eternidade capturada.
No laboratório
a imagem derramada
no papel
apreende
na fração do segundo
o real
e a imaginação
contidos
e refletidos
no olhar
delirante
flamejante.

(Francisco Barros)



Caçador de Borboletas

Para o autor de Lolita



Alçar voos
com palavras
e polinizá-las
nas madrugadas
secretas.

Pastorear
pelos campos
borboletas
coloridas
no arco-íris.

Amestrar
sonhos
no jardim
selvagem
da memória.

Catalogar
nostalgias
no farfalhar
sedoso
das metamorfoses.


Tecer as asas
da linguagem
nos fios
frágeis
do casulo.

Legar ao tempo
palavras
que bailam
no orvalho
das madrugadas.

(Francisco Barros)


segunda-feira, 8 de julho de 2013

Fantasia


Tenho pena
do poema.
Vive o dilema:
realidade
ou fantasia?
Para ajudar
o coitadinho,
coloquei-o
no ninho.
Apressado,
voou alegre,
feito passarinho.

(Francisco Barros)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Poema Exibicionista



Expõe-se na vitrine.
Sabe que o amor
é um jogo de armar.

Vende-se por três
vinténs ao primeiro
que acenar

Não tem pudor
dribla o dissabor
conserva bom humor;

Um pouco asmático,
carismático;
às vezes, idiossincrático.

No mais, cumpre o ofício
com galhardia e volta
pra casa cheio de energia.

(Francisco Barros)

Passado



Carregar a tocha
ferir a escuridão

Erguer o farol
dar sentido à navegação

Perseguir vaga-lumes
vagueando pelo sertão

Acender o lampião
iluminar passos na estação

encarapitado na última
poltrona do vagão.

Coisas do passado
não mais voltarão.

(Francisco Barros)

Estação 1982



Não me sai
da lembrança
o aroma
de uva e maçã
que impregnou
o ano de 1982.

Colho
sem esforço
esses frutos
na estação
da memória.

Será que
estiveram
congelados
nos escaninhos
do tempo?

Sem evocá-los,
ressurgem
renovados
prontos para
serem devorados.

(Francisco Barros)

Segunda Pele



Mar devasso-
com que volúpia
lambes a areia.

Em qual compasso
desta vaga
banha a sereia?

Tuas ondas
volteiam e mugem
na maré cheia.

Tua ressaca
parece de vinho,
mas é de sal.

O que fazer
para alimentar
este comensal?

O ar que te envolve
exala perfume
pelas tuas margens.

E a brisa que
te faz companhia
é minha segunda pele.

(Francisco Barros)

Esquina do Tempo



Clube do som
imaginário.

Você procura
acha nuvem

Você procura
acha vento

Você procura
há muito tempo

Deixa de procurar
encontra esquina

encontra sonhos
encontra morros

Naquela esquina
parece nosso quintal

Uma estrada
vai te levar

pode não ser de terra
pode não ser de ferro

e quando nosso
sonho acabou

fiz de conta
que nosso

encontro ficou
na esquina

da Paraisópolis
com a Divinópolis.

(Francisco Barros)

Bandeira



Tremulaste
no céu, no sol,
na chuva, no vento.

Foste menino
dos becos
da tua amada Recife.

Menino franzino
é certo, adolescente
rebelde tornaste.

Homem feito no Rio
continuaste a transbordar
poesia pelas margens.

No mais alto mastro,
o tempo e o vento ondulam
a tua elevada Bandeira.

(Francisco Barros)

terça-feira, 28 de maio de 2013

Musical



Leminski!
Leminski!
Leminski!

Chama
ansioso
o fã saudoso.

O poeta
finge que
não é com ele

e continua
ouvindo
Stravinski.

(Francisco Barros)

Absinto



Sucinto:
palavra
bacana.

Por que?
Não sei.
Só sinto.

(Francisco Barros)

Camaradagem



Espremi a palavra
amizade.
Retirei sumo
abrasador.

Revelou-se
um retrato
vivo,
intenso

de um grupo
que brinca
de eterna
juventude.

Que ri,
Que chora,
Que namora,
Que beija.

Nessa alegre
comunhão,
gravitam traços
e abraços.

Aquela chama
persistente
teima em não
se apagar.

E nessa viagem
que não vai terminar
sobressai a palavra:
CAMARADAGEM.

(Francisco Barros)

Língua



Esse Leminski
não tinha mesmo
papas na língua.

Em compensação,
pode-se dizer,
sua língua

era um vulcão
ativo; sempre pronto
a expelir poesia.

(Francisco Barros)

Matizes



Na tela
escura
do cinema
revejo
a bela Candice.

Na tela
colorida
do museu
só tenho olhos
para Matisse.

(Francisco Barros)










Quando Nietzsche Sorriu




Quanto mais longo
o dia, mais extenso o erro
dos teimosos idealistas.

Essa história de negar
o real, é mesmo muito
engraçada- Nietzsche sorriu

alvejou com farpas e setas
seus velhos detratores
metafísicos (qual deles restou?)

Sumiram nas brumas da noite
mas ainda foram despertos
pelo galo da madrugada

que teima em evocar para si,
como efeito do seu canto,
o nascimento do sol.

Quem está mais errado-
pergunta Nietzsche sorrindo-
o galo ou o metafísico?

(Francisco Barros)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Elegia



Sorumbático,
aninho-me
no quarto,
adormeço
envolto
no cobertor
de sombras
e sonhos.

(Francisco Barros)

Falar e Calar



Só falo
por falar.
Quando posso,
calo.

Só falo
se chamar.
Não falo só:
converso.

Mais calo
que falo.
Mas faço valer
o que digo.

Nessas horas
não calo.
E não dou
com a língua
nos dentes.

E nem crio
calo na língua.
Mas aprendi:
mudo, não muda
meu ser.

Muda (mudo)
o que sou.

(Francisco Barros)

Estrela




Pra parir
uma estrela
que brilha
como um farol
que ilumina meu anzol
que trago no embornal
é necessário
muito caos
no universo
e tesão celestial.

(Francisco Barros)

Ferro e Fogo



Imita maçarico,
esmerilho, cospe fogo:
palavra na folha de aço.

O verbo é quente
A palavra é dura
A voz não cala: pressente

A palavra perpetua gesto
A mão executa ofício
A máquina imprime manifesto

O sentimento é puro, é duro
O ofício é penoso, exato
A ação não admite perjuro

Crava garras no galho
Escorrem palavras pelo assoalho
Vira, revira, carta de baralho

Já não é palavra, é desenho
Já não é gesto, é engenho
Já não é talento, é desempenho

Criva a palavra de cravos
Adocica a palavra- açúcar mascavo
Desidrata a palavra, suga-lhe orvalho

Engole, mastiga e cospe
Regurgita, tritura e moe
Viceja, redivivo, o verbo:

A ferro e fogo!

(Francisco Barros)

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Autorretrato



Diz que não
nutre vaidade;
quando sai sequer
o cabelo penteia.
Mas tem
perfil no Facebook;
posta fotos
no Instagram.
Anda prá cima
e prá baixo
numa Dobló.
Vê pela internet
quadros de Rembrant;
lê e decora
dois ou três
versos de Rimbaud.

(Francisco Barros)

Voo de Passarinho



Luz e sombra,
lusco-fusco,
mar-testemunha.

Noites sem luar
refúgio do vento
sopro pra espantar

Medos se alojam
nas sombras, nos véus,
nas sobras, nas lágrimas

encobrem pálpebras
adormecem agitados
órfãos de estrelas

perderam caminhos
se refizeram nas trevas:
voo de passarinho.

(Francisco Barros)

Beletrista




Que ousadia.
Não me venha
falar dessa
nova onda
de poesia.

Heresia
profunda,
essa tal mania
de ressucitar
o lirismo.

Recolha-se
à sua condição
de beletrista
com pouca
ou nenhuma inspiração.

Isso é lá profissão?
Melhor procurar
um sucessor
de Quintana
num bar de Copacabana.

Ou então, vá conhecer,
os poetas da Hungria
e correr o risco
de parecer original
ou, até mesmo, genial.

Mas não adianta
querer tentar
plagiar aquele
estilo pra posar
de Ferreira Gullar.

(Francisco Barros)

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Bolha de Sabão




Prá voar
basta sonhar.
Quando
acordar,
de novo,
decolar,
e, assim,
repetir
o gesto
até não
mais fingir
que aquela
bolha de sabão
não se desfaz,
apenas cumpre
sua missão
enquanto
existe.

(Francisco Barros)



quinta-feira, 9 de maio de 2013

Epitáfios




Quem disse que epitáfio é tudo igual? Eles também podem ser criativos e divertidos, embora a situação do entorno não seja. Vejamos alguns que escrevi:

Aqui Jaz
um apressadinho.
Veio antes
de ser chamado.

***

Aqui
Jazz,
Blues
& Rock and Roll.

***

Aqui Jaz
um britânico.
Morreu às 17h
em prantos.

***

Aqui Jaz
um abelhudo.
Meteu-se onde
não deveria.

***

Aqui Jaz
alguém de visão.
Vê de um ângulo
totalmente
diferente.

***

Aqui Jaz
um falastrão
recuperado.
Não fala mais
pelos cotovelos.

***

Aqui Jaz
um ateu.
Duvidou da
morte até
quando morreu.

Francisco Barros

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Sonhos



Silêncio.
Meu sonho
dorme de dia
prá me fazer
companhia à noite.

Silêncio
sol
Silêncio
mundo
Silêncio: mudo.

Assim vão acabar
por despertar
esse pobre
confidente:
subconsciente.

Ele precisa de paz
e não tem
consciência
de todo o bem
que me faz.

(Francisco Barros)

Ecos de um show



Alguém
(cronista, talvez)
algum dia,
haverá
de descrever
a cena,
banal, talvez.

No coração do Brasil
(Serra Dourada-
encantada)
um louva-deus
extasiado,
une-se
ao besouro.

Envolto
por luz,som e neon,
pousa,suavemente,
como quem
nada quer,
no ombro
do pop-star.

Virando-se,
o astro sorri.
O louva-deus
entende e ali
permanece
por uma breve
eternidade.

(Francisco Barros)

domingo, 28 de abril de 2013

Claro e Escuro



A luz, amor,
(você sabe?)
quando intensa
pode cegar,
obscurecer.

As estrelas
não são
percebidas
no clarão
do dia.

alimentam-se
das trevas
para se revelar.
Prá que fitar
o horizonte?

Olhe para dentro
dos seus desvãos:
claro e escuro;
Quem sabe
onde estão?

O medo não veste
o manto negro.
Não está claro?
A luz pode vir
do escuro.

(Francisco Barros)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Regresso de Ulisses e a Imortalidade




Os ocidentais, somos, em grande parte, produto da civilização helênica. Essa filiação espiritual justifica o interesse pela fabulosa cultura grega com suas lendas e mitos. O conhecimento acerca desses temas nos chegou através dos filósofos da pré-história e, sobretudo, pelas narrações de Homero e Hesíodo (poemas épicos e fábulas), por volta de 750 a.C. Interpretar tais histórias não é tarefa fácil, sobretudo porque elas foram contadas e recontadas. E como se sabe, “quem conta um conto aumenta um ponto”.

Não me furtarei à tentação de, também, contar o meu conto. É sobre o regresso de Ulisses a Ítaca, após a guerra contra os troianos. Dentre as muitas espetaculares aventuras desse guerreiro à frente de seus companheiros, uma é especialmente interessante. Navegando em mares bravios, o herói e seus homens são vítimas de uma forte tempestade com raios e trovões. O navio acabou totalmente despedaçado. Com os restos da embarcação, Ulissses fez uma jangada que o levou à Ilha de Calipso.

Calipso era uma divindade feminina, ninfa do mar, que compartilhava diversos atributos dos deuses. Ela acolheu Ulisses, recebendo-o com muita hospitalidade. Carente, a Ninfa não resistiu aos encantos do aventureiro. Apaixonou-se perdidamente por ele. Para seduzi-lo chegou, inclusive, a prometer-lhe a imortalidade, desde que ficasse para sempre na ilha. A tentação era grande, mas o herói recusou a “euforia da eternidade”. Ao recusar a proposta, Ulisses optou por sua identidade, esquivando-se do engodo da atemporalidade.

Preferiu continuar “dono do seu destino, capitão da sua alma”. Significava cumprir a sua realização mortal: regressar para o seu reino em Ítaca e para os braços de sua amada – Penélope. Se outra fosse a sua escolha, as suas aventuras teriam sido em vão, uma vez que perderia a sua identidade, transformando-se numa efígie perene. Embora tentadora, a proposta da ninfa implicaria em negar a sua condição humana. Toda a sua Odisséia (cantada por Homero) não passaria de uma vertigem, uma incompletude.

Calipso resistiu o quanto pode à disposição de Ulisses de regressar à pátria, para a esposa e o filho. Para resolver o impasse, foi necessária a interveniência do deus Júpiter. Foi ele quem ordenou que o viajante deveria partir. Ulisses, recolhido a uma gruta, recebeu de Mercúrio a mensagem, que foi assim descrita por Homero:

Verdejante, viçosa trepadeira
Forrava os muros da espaçosa gruta.
Em torno, quatro fontes cristalinas
Derramavam na terra a pura linfa,
Que corria em regato sinuosos,
Entre a verdura tenra, que violetas
Purpúreas enfeitavam. Era um cenário
Que qualquer deus veria com deleite.


Calipso resistiu o quanto pode às ordens de Júpiter, mas acabou cedendo. Permitiu que Ulisses construísse uma jangada, deu-lhe provisões e vento favorável. Assim, o viajante lançou-se novamente aos mares para cumprir o seu itinerário e alcançar o seu objetivo previamente traçado: regressar à sua querida Ítaca e aos braços de sua amada Penélope.
O escritor e poeta mineiro, radicado no Rio de Janeiro, Affonso Romano de Sant´Anna escreveu belos versos sobre a saga do nosso herói, no poema “Ulisses, o Retorno”. São escritos como esse que asseguram a chama viva desse mito épico que povoa o imaginário dos povos.

Pensei em citar trechos, mas não resisti à tentação de reproduzir, na íntegra, o poema de Sant´Anna. Confira:

“Como voltar
depois de Itaca
das sereias
dos cíclopes
de tanto assombro
de tanto sangue na espada?
Como voltar
se aquele que partiu
partiu-se
e voltará os fragmentos do excesso?
Não há retorno
Há outra viagem
diariamente urdida
dentro da viagem
antiga.
Embora o caminho
da volta
seja percorrido
ninguém retorna
apenas volta a viajar
no espaço anterior
estranhamente familiar.
Como se o regresso
fosse acréscimo
e o viajante descobrisse
que é atrás
que está a fonte
e na alvorada
o horizonte
não há retorno.
Há o contorno
do próprio eixo
o tempestuoso
périplo do ego
um diálogo de ecos
como quem
tenta encaixar
diferentes rostos
no mesmo espelho.
Por isto, o retorno
inelutável
é perigoso
exige mais perícia
que na partida
mais destreza
que nos conflitos
pois o risco
é naufragar
exatamente
quando chegar ao porto.”

sábado, 23 de março de 2013

Fresta de Luz



Cedo se vão as rosas d’alegria...
Cedo o outono se fana: o inverno vem.
Cedo me foge a suave melodia
Que aos ouvidos meus doce sonido tem
!”.
Katherine Manisfield

“Não posso fraquejar, tenho filhos para criar”. Deitada na cama, a sentença era-lhe soprada. Por quem? Não sabia. Apenas tinha consciência que a ouvia. Por isso, agarrava-a. Sentia-se como o náufrago que tem diante de si restos de madeira na imensidão do oceano azul. Repetia, balbuciando, semiconsciente: “Não posso fraquejar...”

Agora, tinha a impressão nítida da solidão. Era como percorrer uma estrada longa e deserta. O sol a pino, a boca seca, o cansaço. Mais mental que físico. Onde iria chegar a pé? Essa estrada terá fim? As ideias embaralhavam. Era difícil concatená-las.

Não sentia mais chão sob os pés. Porém, não queria se entregar àquele estado onírico. Necessitava manter-se lúcida. Mas onde buscar forças? O mundo exterior parecia etéreo. Foi quando sentiu que afundava. Num lago? Não sabia. Sentia dificuldade  em  respirar. Como retornar à superfície? Tratava-se de um pesadelo?

Tudo à sua volta soava confuso. Olhou para o lado. Identificou o criado mudo. Levou a mão até ele. Teve a impressão de que, preguiçosamente, subia uma leve nuvem de pó. Os seus olhos negros tentavam divisar o que se encontrava no seu derredor. Passou a mão pelos cabelos levemente encaracolados, macios. Despertou.

A sua cabeço doía. O rosto lívido, a pupila levemente dilatada. Repetiu novamente para si: “Não posso fraquejar, tenho filhos para criar”. Foi quando os seus músculos começaram a distender-se. Conseguiu divisar o teto. Fixou um ponto: uma ínfima fissura no alto da parede, teias de aranha. Em seguida, voltou a cabeça para o lado: o abajur desligado.

Sentia as mãos trêmulas. Fixou a janela. Uma pequena fresta de luz teimava esquivar-se e esgueirar-se por entre a cortina com blackout. Aquela delgada réstia encheu de vida o espaço antes claustrofóbico. Preparou-se mentalmente: ia levantar.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dostoiévski e a opressão da mulher




Acabo de folhear as últimas páginas de um livro oportuno para o mês de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher. O 8 de Março, como todos sabemos, se propõe a denunciar a opressão e a violência contra esse gênero. É bem verdade que, em termos de conquistas, o século XX foi pródigo nesse terreno. Foi o período de (re)afirmação da causa feminina (ou feminista). No século XXI, caminha-se a passos firmes no sentido da tão sonhada igualdade de direitos (pelo menos no Ocidente).

Recuando no tempo, o que dizer do século XIX? Até então, a mulher não tinha vez, nem voz. Eram raras as escritoras e artistas. Mas justamente nesse século um gigante das letras solidarizou-se com esta causa. Escreveu uma peça literária de expressiva agudeza. Nela denuncia o regime despótico a que as mulheres eram submetidas. O autor em questão é o russo, nascido em Moscou (1821-1881), Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski. A novela é uma pequena obra-prima. Intitula-se: “Uma Criatura Dócil”.

Dostoiévski retrata a vida de um casal. Com o seu gênio inventivo, escusa-se a recorrer a uma narração convencional, linear. Mais sugere que descreve. Utiliza-se de uma espécie de diário confessional, repleto de trilhas tortuosas, reentrâncias, guinadas e solavancos. Com isso, o leitor é conduzido a tirar suas próprias conclusões a partir do depoimento do marido. Percebe-se que se trata de um ser mesquinho, avaro, truculento, diabólico, às vezes, misantropo.

As visões e opiniões desse personagem são parciais, fruto de uma mente doentia. Mas ele, no meio de sua loucura e delírio, deixa-se retratar por inteiro. Cai o véu de sua personalidade. Aflora e transparece o egoísmo, canalhice, petulância e sabujice. Vem à tona a crueldade dos pequenos gestos, da incomunicabilidade, o despotismo de uma relação dúbia. Utiliza-se da força (em todos os sentidos, inclusive, da econômica), para fazer prevalecer as suas idiossincrasias.

Paralelamente, emerge a figura frágil, solitária, incompreendida, meiga, sem nome, heroína trágica, que é a esposa, de apenas 16 anos, que dá título à novela. Ao retratar esta personagem sob a ótica de seu carrasco, Dostoiévski engrandece a sua “Criatura Dócil”. Confere à história o status de tragédia urbana, realista, mas com altas doses de psicologia, marca registrada do escritor russo.

Esta pequena joia rara é a peça literária mais contundente escrita no século XIX contra a dominação da mulher. Trata-se de um olhar pungente sobre o universo feminino. Não sem razão, chegou a ser lembrada como “uma das mais vigorosas novelas do desespero na literatura mundial”. O francês André Gide foi taxativo. Qualificou-a de “uma coisa estupenda”. Dostoiévski foi feminista quase um século antes do feminismo.