quarta-feira, 24 de julho de 2013

Blow Up

Lembrando Antonioni


O filme é um clássico do mestre Antonioni. Revê-lo é sempre um prazer. Trabalha duplamente a imagem: cinema e fotografia. Uma homenageia a outra. Ambas, irmãs quase siamesas, nutrem-se das imagens. O cinema não tem compromisso com o real. A fotografia tem. Mas será? É, exatamente, o que Antonioni coloca em dúvida no filme.

Onde termina a realidade e começa a fantasia? A objetividade, a verdade, a realidade podem ser apreendidas em toda a sua essência? São questões para serem ponderadas, medidas, questionadas. Antonioni conduz tudo isso sem esquematismo, tomando por base e inspiração um belo conto de Julio Cortázar. Lançado em 1966, o filme capta a efervescência dos loucos anos 60.

A estética é jovem. Pulsante. Aborda o mundo das modelos. Mas vai muito além das aparências. Da beleza das beldades que desfilam nas passarelas, que são fotografadas em estúdio. A verdade está nas ruas. O cineasta mostra o protagonista, o fotógrafo da moda Thomas (David Hemmings), com um olhar apurado.

Fugindo das situações banais dos estúdios, ele capta um beijo num parque em Londres. Daí o subtítulo do filme: Depois Daquele Beijo. O roteiro explora com muita perícia o que se esconde por trás da imagem desse beijo. Ao revelar (e ampliar) o negativo diversas situações surpreendentes começam a fazer sentido. Como não sou desmancha prazer, não dá para contar o final.

Ao rever o filme que tinha visto na década de 90, tive a ideia de fazer um poema para homenageá-lo. Esbocei um texto inicial (abaixo). Mas, como sempre, não me dou por satisfeito. Cortei, acrescentei, remendei. O resultado vou apresentar na sequência. Novamente, digo: pode (e deve) sofrer mudanças.



Enquadro
quadro a quadro
a luz, a cor,
sombra e movimento.

Objeto em zoom
Objetiva em ação
Aciono o obturador:
paisagem capturada.

A imagem derramada
no papel fotográfico
apreende o instante
do olhar flamejante.

O poema, modificado, ficou da seguinte forma:

Objetiva na mão
Enquadro
(quadro a quadro)
luz e cor
sombra e movimento.
Objeto em zoom
Olho e lente são um
Obturador em ação
Eternidade capturada.
No laboratório
a imagem derramada
no papel
apreende
na fração do segundo
o real
e a imaginação
contidos
e refletidos
no olhar
delirante
flamejante.

(Francisco Barros)



Caçador de Borboletas

Para o autor de Lolita



Alçar voos
com palavras
e polinizá-las
nas madrugadas
secretas.

Pastorear
pelos campos
borboletas
coloridas
no arco-íris.

Amestrar
sonhos
no jardim
selvagem
da memória.

Catalogar
nostalgias
no farfalhar
sedoso
das metamorfoses.


Tecer as asas
da linguagem
nos fios
frágeis
do casulo.

Legar ao tempo
palavras
que bailam
no orvalho
das madrugadas.

(Francisco Barros)


segunda-feira, 8 de julho de 2013

Fantasia


Tenho pena
do poema.
Vive o dilema:
realidade
ou fantasia?
Para ajudar
o coitadinho,
coloquei-o
no ninho.
Apressado,
voou alegre,
feito passarinho.

(Francisco Barros)