segunda-feira, 12 de maio de 2008

Neruda em Goiânia



Na década de 50, Goiânia ainda dava os seus primeiros passos. Ela havia surgido no meio do nada. Começou a ser construída duas décadas antes. Pode-se dizer que foi fruto da Revolução de 30. Pedro Ludovico, que representava esse novo poder no Estado, era ferrenho opositor das antigas oligarquias dominantes. Mudou o centro do poder da Cidade de Goiás (antiga Vila Boa). Investiu numa cidade planejada. Ousou.

Havia necessidade de romper com o velho, com o antigo, com o decadente. Inaugurada oficialmente em 1942, durante o Batismo Cultural, Goiânia tinha que se firmar politicamente, socialmente e culturalmente. Nos seus primórdios havia muitas carências. Uma curiosidade: por um tempo, a energia elétrica que abastecia a cidade era de um motor de submarino, adquirido pelo Estado logo após o fim da 2a. Guerra Mundial.

Culturalmente, o grande marco da década de 50, indiscutivelmente, foi o Congresso Internacional de Escritores, realizado em 1954. Para cá afluíram intelectuais de toda a América Latina e do Caribe. Entre todos, o nome mais famoso foi o de Pablo Neruda, um dos maiores poetas do século XX e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1971.

O que poucos sabem é que Goiânia foi cenário de um dos poemas de Neruda. Ele se chama "Oda Al Pájaro Sofré". Neruda, com o seu lirismo aguçado, trata no poema de um pássaro que levou para o Chile, mas que teve um fim trágico: morreu (provavelmente) de frio. O poema foi incluído no seu livro "Odas Elementales", publicado em 1954.

Eis o trecho do poema, no original, em espanhol:

Te enterré en el jardín:
una fosa
minúscula
como una mano abierta,
tierra
austral,
tierra fría
fue cubriendo
tu plumaje,
los rayos amarillos,
los relámpagos negros
de tu cuerpo apagado.
Del Matto Grosso,
de la fértil Goiania,
te enviaron
encerrado.
No podías.
Te fuiste.
En la jaula
con las pequeñas
patas tiesas,
como agarradas
a una rama invisible,
muerto,
un pobre arado
de plumas
extinguidas,
lejos
de los fuegos natales,
de la madre
espesura,
en tierra fría,
lejos.
(...)

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