quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Imperdível: exposição de Pessoa no Museu da Língua Portuguesa


Fui visitar, no dia 2 de dezembro, a Exposição em homenagem a Fernando Pessoa, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. O título da exposição é apropriado ao escritor: “Plural como o universo”. Para quem se interessar, ela continua em cartaz até o dia 30 de janeiro de 2011. Vale a pena. Explico porque.

Você tem contato com o universo de um escritor genial. Singular na sua forma plural de se expressar. O acesso ao local da exposição é muito fácil. Trata-se da Estação da Luz, onde você tem duas opções: trem e metrô. O prédio possui arquitetura inglesa do início do século XX e foi restaurado e adaptado para receber as instalações do Museu. A inauguração foi em 2006.

Uma curiosidade: nos três primeiros anos do Museu, mais de 1,6 milhão de pessoas visitaram o espaço. É um dos mais visitados do Brasil e de toda a América do Sul. Ele se diferencia das demais instituições pelo resto do mundo por utilizar tecnologia de ponta e recursos interativos.

Além do que, o ingresso é barato. A inteira custa R$ 8,00. É um programa educativo e cultural para toda a família. Ao entrar no ambiente da exposição você vai se deparar com cinco cabines. Nelas são projetados poemas do autor e de seus heterônimos - Alberto Caieiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares. Ao levantar a mão sobre o projetor você dá o comando para a leitura do poema seguinte.

Em seguida, o visitante é conduzido a um labirinto. Nele estão expostos trechos de poemas e numerosas ilustrações do poeta. A cenografia criada é muito criativa e diversificada. As luzes conduzem o olhar para o essencial. Dentro de vitrines você tem contato com manuscritos, fac-símiles e originais datilografados de Pessoa.

No fundo da exposição, o mais interessante. Somos como que transportados a um ambiente marítimo.Sentimos as ondas quebrando na praia. Poemas são projetados na areia, dando a sensação de que foram escritos nesse espaço. A iluminação possui diferentes tons de azul. Tudo interativo. Ao levantar a mão, outro poema é projetado. É uma viagem onírica em torno da obra do bardo português. Uma merecida homenagem.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Em Sampa, no Show de Paul


Fui a São Paulo no dia 22 de novembro. Objetivo: assistir ao show de Paul Mc Cartney. Chovia a cântaros no momento do desembarque, naquela tarde tipicamente paulistana. Os camelôs fizeram a festa. Capas de chuva de plástico, descartáveis, que no dia anterior eram vendidas a R$ 5,00 tiveram os preços majorados para R$ 10,00. Lei da oferta e da procura.

Era uma segunda-feira. O trânsito paulistano, com a chuva, estava ainda mais complicado. Fiquei no Hotel Formula 1, de frente para o Shopping Murumbi. Para conseguir um táxi, para chegar até o local do show, só entrando numa fila. Isso era o de menos, comparado com a outra fila que tivemos que encarar para entrar no estádio do Murumbi. Enquanto isso, a chuva não dava tréguas.

Até a abertura dos portões aguardamos, seguramente, por mais de uma hora. Apesar disso, não houve nenhum tumulto. Todos aguardavam com ansiedade o show do ex-beatle, depois de 17 anos da última apresentação em Sampa. Sem dúvida, um acontecimento histórico. Estávamos diante de um dos principais nomes da música Pop do século XX.

Depois que adentramos o estádio, por volta das 19h30, mais duas horas de espera até o início do espetáculo. Imagina a aflição e a fadiga. Mais de três horas em pé, debaixo de chuva, até Paul entrar no gigantesco palco. Eu estava na pista. Enquanto isso, o púbico não parava de chegar no Morumbi. Contagem final: 64 mil pessoas. Igual à noite anterior, domingo. Só que nesse dia São Pedro foi mais camarada: não choveu.

A verdade é que ninguém estava nem aí prá chuva. Ok. Tá bom. Falar isso é força de expressão. O meu filho mais novo – Danilo-, estava aborrecido. Ele usa óculos (e eu também). As lentes ficaram embaçadas, anuviadas. Um saco. Quem usa óculos sabe do que estou falando. Você pega um lenço, limpa as benditas, minutos depois, olha elas totalmente embaçadas. Assim, não dá.

Mas, deu. Por que? Por um desses milagres da natureza, a chuva parou, pouco antes do início do show. E não mais voltou. A entrada do Paul no palco foi uma apoteose. A simpatia, o carisma e a presença de palco do artista comoveram a platéia. Diferentes gerações entoaram os hits do ex-beatle em uníssono. Ele desfilou um repertório de músicas que fazem parte do imaginário popular. Músicas que expressavam o espírito de uma geração, mas que não ficaram datadas. Daí porque são contemporâneas e conquista novos admiradores.

Havia sido montada uma grande parafernália para assegurar um show irretocável. Jovens casais dançavam, se abraçavam, se beijavam. Casais nem tão jovens, faziam o mesmo. De repente, o tempo parou. Não estávamos em São Paulo, em pleno século XXI. Estávamos num local qualquer do planeta terra, em meados dos anos 60, do século passado, ouvindo e curtindo a única coisa que interessava naquele momento: a revolucionária música do quarteto de Liverpool.

Os meus dois filhos, que me acompanhavam, Danilo (de quem falei), e o Bruno, que estuda em São Paulo, estavam em êxtase. Não era para menos. O som que ecoava naquele estádio imenso embalou milhões de pessoas em todo o mundo por décadas. Todos fazíamos parte de uma única tribo: os amantes do Beatles. A música, universal, nos reunia, nos unia, nos afagava, nos inebriava. Quando Paul agradeceu: “obrigado, paulistas”, na realidade, deveria ter dito: “obrigado, brasileiros”.

O Morumbi estava lotado de pessoas de todo o Brasil. Identifiquei na platéia baianos, pernambucanos, mineiros, cariocas, paranaenses e amazonenses. É claro que os paulistas eram maioria. Verdade seja dita: eles (paulistas) nos receberam muito bem. Tudo foi - quase- irretocável. Quase, porque a chuva nos fustigou. Mas Paul não teve culpa. Pelo contrário. Ele fez daquela noite chuvosa da maior metrópole do Brasil um momento inesquecível, único. Palmas para Sir Paul Mc Cartney.

Em tempo: quem quiser saber um pouco mais sobre o repertório do show, sugiro que acesse o seguinte link: http://migre.me/37SX1

Abaixo,meu ingresso do show de Paul no dia 22 de novembro.

Vinicius e a Crônica


Folheando uma coletânea de Vinicius de Moraes, deparei-me com um texto que é, ao mesmo tempo, uma apologia da crônica e um "manual prático" sobre como exercitá-la. Não por outra razão, o título dado pelo poeta é "O exercício da Crônica". Para quem se interessa por essa forma de expressão, o conteúdo é essencial. E mais que tudo: é uma leitura prazerosa. Ela foi escrita em setembro de 1953, há quase 60 anos. Fala Vinicius:

"O cronista trabalha com um instrumento de grande divulgação, influência e prestígio, que é a palavra impressa. Um jornal, por menos que seja, é um veículo de idéias que são lidas, meditadas e observadas por uma determinada corrente de pensamento formada à sua volta.

Um jornal é um pouco um organismo humano. Se o editorial é o cérebro; os tópicos e notícias, as artérias e veias; as reportagens, os pulmões; o artigo de fundo,o fígado; e as seções, o aparelho digestivo - a crônica é o seu coração. A crônica é matéria tácita de leitura, que desafoga o leitor da tensão do jornal e lhe estimula um pouco a função do sonho e uma certa disponibilidade dentro de um cotidiano quase sempre ´muito tido, muito visto, muito conhecido´, como diria o poeta Rimbaud.

Daí a seriedade do ofício do cronista e a frequência com que ele, sob a pressão de sua tirania diária, aplica-lhe balões de oxigênio. Os melhores cronistas do mundo, que foram os do século XVIII, na Inglaterra - os chamados essayists -, praticaram o essay, isto de onde viria a sair a crônica moderna, com um zelo artesanal tão proficiente quanto o de um bom carpinteiro ou relojoeiro. Libertados da noção exclusivamente moral do primitivo essay, os oitocentistas ingleses deram à crônica suas primeiras lições de liberdade, casualidade e lirismo, sem perda do valor formal e da objetividade. Addison, Steele, Goldsmith e sobretudo Hazlitt e Lamb - estes os dois maiores - fizeram da crônica, como um bom mestre carpinteiro o faria com uma cadeira, um objeto leve mas sólido, sentável por pessoas gordas ou magras.

Do último, a crônica "O Convaslescente" serviria bem para ilustrar o estado de espírito maníaco-lírico-depressivo do cronista de hoje, inteiramente entregue ao egoísmo de sua doença e à constante consideração de sua pessoainha, isolado no seu mundo de cortinas corridas, a lamber complacentemente as própria feridas diantes de um espelho pessimista.

Num mundo doente a lutar pela saúde, o cronista não se pode comprazer em ser também ele um doente; em cair na vaguidão dos neurastenizados pelo sofrimento físico; na falta de segurança e objetividade dos enfraquecidos por excessos de cama e carência de exercícios. Sua obrigação é ser leve, nunca vago; íntimo, nunca intimista; claro e preciso, nunca pessimista. Sua crônica é um copo d´água em que todos bebem, e a água há que ser fresca, limpa, luminosa para a satisfação real dos que nela matam a sede.

Num momento em que o grande mal de grande parte do mundo é o entreguismo, a timidez e a franca covardia, o exercício da crônica reticente, da crônica vaga, da crônica temperamental, da crônica ególatra, da crônica à clef, da crônica de cartola - é um crime tão grande quanto o de se vender, em época de epidemia, um antibiótico adulterado. A restauração da crônica, no espírito da dignidade com que a praticaram os essayists ingleses do século XVIII, deveria constituir matéria de funda meditação por parte de seus cultores no Brasil".

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

JK: O Artista do Impossível


O título acima é do livro do jornalista e escritor Cláudio Bojunga. Trata-se de uma obra seminal sobre os Anos JK, que compreende a segunda metade dos anos 50 do século passado. O livro nos oferece elementos preciosos para entender melhor o Brasil de hoje. A pesquisa para sua elaboração consumiu dez anos. Isso, por si só, nos mostra a seriedade desse trabalho.

Que fique claro: o autor nos oferece uma análise da política no Brasil em todo o século XX. Percorre a República Velha, o Estado Novo, a Redemocrátização Pós-45, suicídio de Vargas, governo JK, e, na sequência, os governos Jango e Jânio, o golpe de 64 e os anos de exílio do presidente Bossa Nova até a sua morte, em 1976.

É uma leitura, desculpe a repetição, essencial para entender o Brasil. Se Vargas fincou as bases iniciais para a industrialização e o ingresso do país na modernidade, foi JK o responsável pela sua consolidação. Visionário, empreendedor, conciliador, democrata. São muitos os adjetivos para qualificá-lo. É preciso muito mais para entendê-lo. O livro está a altura do personagem.