sábado, 24 de maio de 2008

Bate-Bola com o Mar


O céu era azul. O sol reinava soberano. A brisa marinha soprava o seu hálito fresco. Os banhistas seguiam a rotina de verão: uns caminhavam sem pressa pela praia; outros deixavam-se quedar em cadeiras voltadas para o mar. Vendedores ambulantes ofereciam queijo, óculos e roupas de banho.

Alheio a todos, um menino se divertia com uma bola. Devia ter cerca de 12 anos. Pele morena curtida de sol. Uma ginga de corpo muito peculiar. No princípio, fazia embaixadas. Depois, descobriu um parceiro de jogo: o mar.

Explico: o garoto chutava a bola em direção as ondas; estas, com a sua força, conduzia a bola de volta à praia e aos pés do garoto. A cena, aparentemente banal, se repetiu diversas vezes.

O bate-bola aconteceu em Fortaleza, na praia do Futuro, há cerca de seis anos. O menino virou homem. Fico a imaginar: será que ainda joga bola com o mar?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Péres: Uma Referência Ética


Ele era baixinho e raquítico, porém, temido por muitos, especialmente pelos corruptos. Na tribuna, a sua voz era poderosa. Agigantava-se ao defender a democracia e a liberdade. Seu nome: Jefferson Péres. Um dos políticos mais brilhantes no Congresso Nacional. Hoje, pela manhã, sua voz se calou.

Na tribuna, expressava-se de maneira pausada e firme. Era dono de uma oratória brilhante. Sem concessões. Sem demagogia. Guardada as diferenças históricas, lembrava Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas.

O senador amazonense foi um bravo. Muitos o classificavam como uma referência ética na política brasileira. E de fato foi. Parlamentar aguerrido, Péres notabilizou-se pela coragem e pela coerência. Quando subia na tribuna (não fazia muitos discursos), sabia-se que o seu pronunciamento teria grande repercussão.


No lodaçal em que se encontra a política brasileira, era um dos poucos que se mantinha intacto. Não se deixou contaminar, nem se cegar pelo brilho do poder. A coerência, a lucidez, a coragem, a sabedoria, a rebeldia sensata e madura de Jefferson Péres farão falta ao Brasil.

Parabéns senador. Que a sua luta e o seu exemplo não sejam em vão. Descanse em paz.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Neruda em Goiânia



Na década de 50, Goiânia ainda dava os seus primeiros passos. Ela havia surgido no meio do nada. Começou a ser construída duas décadas antes. Pode-se dizer que foi fruto da Revolução de 30. Pedro Ludovico, que representava esse novo poder no Estado, era ferrenho opositor das antigas oligarquias dominantes. Mudou o centro do poder da Cidade de Goiás (antiga Vila Boa). Investiu numa cidade planejada. Ousou.

Havia necessidade de romper com o velho, com o antigo, com o decadente. Inaugurada oficialmente em 1942, durante o Batismo Cultural, Goiânia tinha que se firmar politicamente, socialmente e culturalmente. Nos seus primórdios havia muitas carências. Uma curiosidade: por um tempo, a energia elétrica que abastecia a cidade era de um motor de submarino, adquirido pelo Estado logo após o fim da 2a. Guerra Mundial.

Culturalmente, o grande marco da década de 50, indiscutivelmente, foi o Congresso Internacional de Escritores, realizado em 1954. Para cá afluíram intelectuais de toda a América Latina e do Caribe. Entre todos, o nome mais famoso foi o de Pablo Neruda, um dos maiores poetas do século XX e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1971.

O que poucos sabem é que Goiânia foi cenário de um dos poemas de Neruda. Ele se chama "Oda Al Pájaro Sofré". Neruda, com o seu lirismo aguçado, trata no poema de um pássaro que levou para o Chile, mas que teve um fim trágico: morreu (provavelmente) de frio. O poema foi incluído no seu livro "Odas Elementales", publicado em 1954.

Eis o trecho do poema, no original, em espanhol:

Te enterré en el jardín:
una fosa
minúscula
como una mano abierta,
tierra
austral,
tierra fría
fue cubriendo
tu plumaje,
los rayos amarillos,
los relámpagos negros
de tu cuerpo apagado.
Del Matto Grosso,
de la fértil Goiania,
te enviaron
encerrado.
No podías.
Te fuiste.
En la jaula
con las pequeñas
patas tiesas,
como agarradas
a una rama invisible,
muerto,
un pobre arado
de plumas
extinguidas,
lejos
de los fuegos natales,
de la madre
espesura,
en tierra fría,
lejos.
(...)

Soneto da Fidelidade


Aqui, como se pode constatar, uma coisa puxa outra. Ao falar do compositor Vinícius, não se pode esquecer do poeta Vinícius. E ao se falar do poeta Vinícius não dá para esquecer alguns de seus poemas que se incorporaram ao nosso imaginário coletivo. É o caso do Soneto da Fidelidade, que transcrevo a seguir:

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Se ler estes versos é um deleite, imagine vê-lo declamado pelo próprio poeta. É o que veremos a seguir. Postei o vídeo do Vinícius. Que tal conferir?

Garota de Ipanema: Eterna

Chega de Saudade, O Barquinho, Garota de Ipanema se tornaram grandes clássicos da Bossa Nova. Das três, Garota de Ipanema consagrou-se como uma das canções mais executadas em todo o mundo, ao lado de Yesterday, dos Beatles. Que tal conferir Garota de Ipanema executada por uma dupla espetacular: Tom Jobim e Vinícius de Moraes? Imperdível.

Bossa Nova: 50 Anos

Ritmo genuinamente brasileiro, a Bossa Nova está completando 50 anos. E tem muito o que comemorar. Ela é reconhecida mundialmente. Os seus criadores figuram, com muita justiça, entre os grandes gênios da música popular do século XX. No vídeo abaixo confira uma performance espetacular do quarteto: Tom Jobim, Vinícuius de Moraes, Toquinho e Miúcha.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Mídia Construtiva Rompe Fronteiras

A mídia espetáculo, que transforma a notícia em show, é um fato. Ela está presente no nosso cotidiano. Basta ligar a TV, folhear jornais e revistas, sintonizar o rádio e acessar a Internet. Explora-se a exaustão um assunto com o propósito eminentemente comercial. A boa notícia: existe uma reação a tudo isso. Grupos organizados em todo o mundo procuram disseminar um outro tipo de mídia:a mídia construtiva.

A princípio, o movimento pode parecer uma ação de idealistas. Na verdade é. Mas com uma diferença: são pessoas que sonham, mas tem os pés bem fincados no chão. Ou seja, não guerreiam contra moinhos de vento. Possuem objetivos claros e estratégias bem delineadas. De pouco adianta apenas criticar a mídia pelo baixo nível de sua programação. É necessário oferecer alternativas.

O Pangea Day, que será realizado no próximo dia 10 de maio é uma delas. Neste dia serão exibidos 24 curtas-metragens que foram selecionados entre mais de 2.500 produções. São mais de 100 países envolvidos. Os filmes foram feitos tendo em vista inspirar, transformar e transmitir empatia por meio do cinema.

O objetivo do projeto, segundo os organizadores, é unir o Planeta em que as pessoas estão divididas por fronteiras, conflitos e por diferenças ideológicas e religiosas. Querem mais: mostrar o que as pessoas tem em comum. Ou seja, os seus anseios, sonhos, carências e emoções.

Clique abaixo e confira o vídeo de divulgação do Pangea Day. Vale a pena conferir.